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AS PESSOAS TÊM ESCOLHAS. SÃO LIVRES PARA ISSO.



Tem gente que acredita nisso. Muita gente tem certeza. Cada um é resultado das suas escolhas. Cada um é livre para decidir um caminho. A essa altura você já percebeu que é uma grande e velha mentira.

Começo do começo, o bebê humano, preso a uma condição indefesa. Qual sua escolha? O bebê cavalo é mais livre, ainda assim preso às tetas da mãe. Mas logo estará trotando preso ao cercado do pasto.


O bebê humano estará chorando ou balançando os braços no cercado do berço, quando tem berço. Vivemos assim, uma existência presos em cercados e cercados de tetas. Grudados, agarrados ao que protege, ao que nos mantem seguros. Somos prisioneiros da segurança. Sem ela estamos perdidos. Sem oxigenio estamos mortos, sem água, sem alimento, sem afeto estamos desamparados.


Crescemos mas seguimos bebês adultos amparados pelas regras da casa, pelas cercas das culturas, pelas grades curriculares e regulados pelas necessidades fisiológicas. Nossas escolhas são restritas a esses cenários caóticos, às vezes eufóricos, às vezes pacíficos. A paz é aquele instante ausente de escolhas, quando o sono determina o estado do corpo. Determina. Alguém pode decidir manter-se acordado com uso de substancias, mas estará preso a elas, as substâncias.


Ninguém escapa delas. Presos às substâncias da terra, da água, do ar e do fogo. Presos às substâncias da indústria dos alimentos, das farmácias, do petróleo, da informação. Quais os espaços de escolhas? Os que são permitidos pelas religiões, pelo Alcorão, pelas leis do mercado, pelos erros dos pioneiros, pelos exemplos dos derrotados, pelos acertos dos riscos, pelo crime, pelo descaso, pelo infortúnio.


Não tem escolha. Escolhemos o que nos é permitido escolher. Somos levados por uma correnteza, cada um pega a sua corrente presa a outras correntes. Livre arbítrio é outra conversa para nos enganar com a ilusão do poder. Estamos todos presos ao planeta, às três dimensões, às nossas culpas e necessidades. Presos, agarrados, ligados à sobrevivência.

Até que a morte nos separe.


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