CRÔNICA DA NOSSA EXTINÇÃO
- 28 de out. de 2024
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Atualizado: 28 de out. de 2024
Somos o fio quebrado do tecido, a célula cancerosa do organismo, o veneno que nos matará. É possível que já sejamos uma espécie em extinção.

Estima-se que as espécies viventes hoje correspondem a menos de 1% das que já viveram no planeta.
A extinção da espécie humana pode ocorrer por vários motivos, dentre eles a destruição do habitat, a competição, as doenças, matanças deliberadas, mudanças e catástrofes ambientais.
Éramos apenas um fio na trama do tecido chamado natureza. Éramos apenas uma célula deste organismo. Vivíamos em harmonia com o todo. Caçávamos, coletávamos e plantávamos somente para o sustento.
Então criamos deuses, inventamos cidades e atribuímos a um deus a criação do mundo em uma semana, com um dia de descanso, como a primeira jornada de trabalho. Depois fomos criados a sua imagem e semelhança. Assim a natureza nos foi dada em troca, como um suborno.
Brotou aí nossa arrogância e prepotência. Não éramos mais um fio na trama do tecido. Não éramos mais uma célula do organismo. Éramos a imagem e semelhança daquele que concebeu o mundo.
Criamos a separação. De um lado os seres providos de inteligência, do outro a natureza.
Passamos a querer dominá-la, e acreditamos ter conseguido sucesso nessa tarefa.
Passamos a sangrar a natureza.
Inventamos mentiras sobre riquezas e acreditamos nelas.

Concebemos armas e fizemos guerras para conquistar territórios.
Pioramos as cidades e nos concentramos nelas. Viramos seres terrivelmente urbanos.
Há os que se orgulham em declarar-se urbanos.
Nos afastamos do âmago, perdemos a essência.
Construimos conceitos distorcidos de progresso e desenvolvimento como justificativa para destruir o ambiente.
Transformamos a natureza em produto: o cimento, o tijolo, o produto casa; o produto fio, o tecido e a roupa; o produto farinha, o pão, macarrão, bolo e muitos outros; o produto mobiliário; o carro; o eletrodoméstico; o produto computador; tudo virou produto.
O produto é nossa riqueza e em função dele passamos a existir.
Derrubamos árvores, poluímos rios e mares, destruímos montanhas para extrair minerais, matamos animais e tiramos suas peles, compramos e vendemos tudo.
Tudo passou a ter valor estimado em moeda, até a vida.
Adoecemos. Adoecemos gravemente.
Perdemos nossa conexão essencial. Esquecemos o que somos e de onde viemos.
Nossos ambientes fabricados estão contaminados e não notamos.
Acreditamos que estes ambientes construídos são elementos essenciais.
É do afastamento de nossa gênese que nascem as melancolias, depressões, pânicos, esquizofrenias, e outras doenças do corpo e do espírito, mas não nos damos conta disso.
Destruímos nosso ambiente original. Destruímos uns aos outros. Nos perdemos em nossa prepotência, arrogância e ganância.
Pensamos que estamos no controle. Consumimos e exaurimos a natureza numa velocidade maior do que ela pode se recuperar.
Em breve descobriremos que não se come dinheiro.
Somos o fio estragado do tecido, a célula cancerosa do organismo. Somos o veneno que nos matará.
É possível que já sejamos uma espécie em extinção.

Então no futuro, pelas frestas do asfalto novas sementes germinarão.
Em algumas décadas a paisagem se transformará.
Árvores espalharão suas raízes quebrando o concreto. Em séculos, onde antes existiam megalópoles, florestas se formarão. Animais virão.
Ecossistemas se estabelecerão e um dia apagarão as marcas de nossa miserável existência.
A natureza provará que a inteligência é um atributo dela, pois sempre reviverá.
O que chamamos de inteligência humana, não passa de um mix nocivo de arrogância, prepotência e ganância.
Fim!
(Com colaboração de Cadu de Castro)
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