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LUDOPATAS

Os três amigos apostaram que o motorista do uber iria usar o freio de mão em algum momento. O uber pegaria os três separadamente, um em cada ponto da ladeira. Obvio que ele usaria o freio em alguma das paradas. Só não contaram com o pavor do motorista a freio de mão. O cara tinha nojo. Usar em algum momento seria humilhação. Sempre fui assim orgulhoso, disse o rasta com formação em Ciencias Sociais. “Sou mestre em meia embrenhagem”.

Eu assim 😮no banco traseiro.

Os amigos perderam a aposta. No fim da carrida entregaram cinquentinha ao uber. “Tome, é seu, você ganhou a aposta”. Aposta? Só então foi saber da doença dos três que já virou praga no mundo, a ludopatia.


O sobrinho de uma amiga não pode ouvir falar em bet. Acende os olhinhos. Tem cinco anos. O pai pede com frequencia opinião dele para escolha de números de loterias. A criança aprendeu a mexer no aplicativo. Hoje joga ao lado do adulto contra a vontade da mãe - que nessa área não apita.


Algumas casas de apostas decidiram retirar o termo “aposta” das suas campanhas publicitárias. Passaram a usar “entretenimento esportivo”. Uma faixa imensa com esse conceito toma uma parede da estação rodoviária de Salvador. Mas também nas paredes das escadas do aeroporto.


O auditor fiscal aposentado aposta desde que era atuante no estado. Mais da metade do salário ia para os jogos. Não se conteve e passou a jogar todo salário. Teve sorte, ganhou umas duas vezes. Estimulado, jogou milhares de outras, e perdeu. Assim funciona essa máquina destrutiva, a pessoa ganha uma, pico de adrenalina, sensação de poder e… perde mil. A perda provoca uma resposta emocional negativa, que pode levar a um desejo de recuperar o que foi perdido, criando um ciclo vicioso que será difícil quebrar. Tem acabado em suicídios.


O Brasil é o segundo do mundo em jogos de azar e agora em bets - jogos virtuais. A China é o primeiro. Os seguidos governos estimulam o vício com as loterias oficiais e relaxam com as ilegais. As bets entraram no mercado como um tsunami. Ninguém segura. Mulheres e homens não se distinguem. Alguns levantamentos indicam que mulheres chegam a jogar mais que homens. E agora crianças.

O faturamento das bets no Brasil já supera 120 bilhões de reais anuais, quase a receita da Petrobras de 137 bilhões. E a tendência é superar.


O ser humano é um jogador. Deve existir uma molécula, uma sequencia do DNA de milhões de anos que o empurra para as bancas.  A historia dos jogos passa por tribos pagãs, igrejas e templos, por faraós e golpistas mequetrefes. Todos jogam em algum nível. As relações afetivas e seus joguinhos de sedução e competição. Os jogos de poder, o capitalismo, a vida é um jogo. O presente é um jogo, o futuro outro jogo de imprevistos. Há  no entanto uma certeza insofismável: quem não joga, não tem a menor chance de ganhar… uma úlcera.


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