Você tem o poder ao comprar a passagem aérea. Mas perde o poder quando vira passageiro. O poder é do piloto.
O piloto tem o poder de manipular os comandos da aeronave. Mas perde o poder quando um urubu é sugado nas turbinas.
Nas viagens de bus, o poder é do motorista. Em centenas de quilômetros, vc estará submisso a ele. Mas seu poder como submisso permitirá dormir na poltrona. O motorista, ao contrário, não poderá sequer cochilar. Ele estará escravo da estrada.
O escritor tem o poder de orientar as palavras no texto. Mas precisa ser submisso ao idioma, ao teclado ou à voz. Tem o poder de criar, mas antes submisso ao tema e a sua sanidade. Na sanidade está o poder mas antes estará submissa à história, às lutas e lutos.
Todo mundo quer o poder.
O poder do pedreiro sobre o ajudante, do ajudante sobre o cimento.
O poder do cheff sobre o cozinheiro, do cozinheiro sobre o lavador de pratos. O lavador de pratos sobre o faxineiro. O faxineiro sobre a vassoura.
O poder dos pais sobre os filhos, dos filhos sobre os avós, dos avós sobre os mimos, dos mimos sobre os interesses, dos interesses sobre o caráter. O poder das chantagens, dos afagos e das estratégias para quando existir sem poder.
Nem falo do poder do homem sobre as lagartixas e das largatixas sobre o medo. O poder das bombas e dos antibióticos sobre o corpo submisso a virus, fungos e bacterias. O poder das emoções sobre os vazios e dos vazios sobre as turbulências e todas as coisas, todas.
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