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VESTIDOS PARA DEVASTAR

  • 14 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 16 de jul. de 2024

Sua linda roupa da noitada é uma tragédia ambiental. Para fabricá-la, de cima abaixo, foram gastos cerca de 14 mil litros de água, a quantidade média que uma única pessoa bebe em 15 anos.


Multiplique pelos 300 convidados dessa “festa” além dos 150 organizadores, ajudantes, seguranças, motoristas, curiosos e o resultado será desanimador - 6,3 milhões de litros apenas em roupas. Supondo que cada pessoa do planeta tivesse somente um conjunto de camisa, calça, vestido e peças íntimas, os números seriam catastróficos - 2,8 quatrilhões de litros. Mas sabe-se que é muito mais.


A indústria da moda é a segunda maior poluidora do planeta, responsável por 8% do gás carbônico da atmosfera, atrás apenas do setor petrolífero. Uma das razões que explicam essa poluição intrínseca é que 70% dos artigos utilizados na fabricação de roupas e calçados são derivados do petróleo.


Entre todas as indústrias, a têxtil é a que mais gera efluentes líquidos. Com a produção, essa água com inúmeros contaminantes se mistura ao solo, infiltrando corantes usados para dar cor e beleza aos tecidos.

É contraditório que milhares de manifestantes em defesa do meio ambiente estão ajudando a devastá-lo com suas bandeiras e roupas. Para manter coerência, deveriamos protestar pelados.


INVIÁVEIS


A moda é apenas um exemplo da inviabilidade do ser humano moderno no planeta. Não há saída porque as roupas têm funções de proteção, vaidade e poder. As que protegem não precisam lotar os armários. Mas as outras, lotam. Quanto mais vaidade, mais peças. Quanto mais necessidade de poder, mais roupas.


Todas as idades têm suas peças o que faz da indústria uma mina sem fim. Os bebês usam por pouquíssimo tempo e descartam. As crianças mais um pouco, os adolescentes e jovens exigem variedade. Os adultos acumulam nos guarda-roupas. Os idosos descartam quando cai a ficha da inutilidade de tantas peças.


Isso sem contar os lençois, cobertores, mantas, colchas, toalhas, panos de prato, tapetes, almofadas, roupas de gatos e cachorros, um mundo de panos. É bem possível ter mais panos que mamíferos no planeta.


Para onde vai todo esse lixo? Milhares de containers são despachados em navios com roupas lixo para países do terceiro mundo. No Chile existe um deserto coberto com roupas descartadas. Os desabrigados da tragédia climática no RS receberam mais panos que comidas. Muitos dos doadores aproveitaram para se livrar de suas roupas defasadas.


INDÚSTRIA QUE ALIMENTA DOENÇAS


Os sistemas alimentares são outra tragédia, responsáveis por 75% das emissões de poluentes no Brasil. A produção de alimentos emite cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2. Isso inclui poluição de nutrientes pelo escoamento de fertilizantes, degradação do solo, perda de biodiversidade com a monocultura, corte de árvores etc.


A Nestlé é a maior poluidora em alimentos processados, com 18,8 milhões de toneladas de gases do efeito estufa para produzir leite em pó e derivados. As brasileiras JBS (287,9 milhões de toneladas) e Marfrig (102,6 milhões) são as que mais emitem poluentes para produzir carne, superando França, Alemanha, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.


Ao conclamar que o mundo coma mais carne, inclusive a Índia, o governo brasileiro busca ampliar a exportação do agronegócio sem observar as consequências. O modelo econômico é autodestrutivo. O que gera riqueza produz doentes, destroi a natureza e vai nos dizimar. Enfim, os sobreviventes acabarão vestidos em tangas coletando grãos e frutas nas sobras da Terra.

 
 
 

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